Impactos sobre a cultura política das experiências de democracia participativa têm sido pouco explorados por investigações acadêmicas. Em parte, porque é preciso aguardar tempo suficiente para avaliar as práticas na sua continuidade. Em parte, porque a avaliação da dimensão subjetiva exige procedimentos específicos. Além dos possíveis impactos redistributivos, de introdução do controle social e de accountability, de reforma da gestão do Estado, de fortalecimento da ação coletiva e associativa, a dimensão dos efeitos subjetivos da participação reveste-se de fundamental importância para analisar o potencial democratizador da participação.
Considerando a longa continuidade do Orçamento Participativo de Porto Alegre (duas décadas em 2009), o livro investiga os possíveis ganhos para a consciência de cidadania dos participantes. Utilizou-se referencial teórico e investigação empírica, baseados na noção de consciência social, cujo núcleo duro é a moralidade, na perspectiva sócio-interativa adotada pelos indivíduos em relação aos outros. Pressupõe-se, assim, que efeitos positivos sobre a consciência de cidadania, a ser exercida em todas as esferas societárias, inclusive do cotidiano, corresponda a graus maiores de descentração do Eu, que acessa os princípios universais de reconhecimento dos direitos e dos deveres. Convida-se à reflexão crítica na transformação social pela participação, que inexiste sem mudanças de consciência. Como se sabe, são as mais difíceis de serem alcançadas e as mais demoradas em qualquer contexto.