Tão grande quase nada

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Eu me lembro como se fosse agora. É assim que Nelson Rego inicia o romance “Tão grande quase nada”. É assim também que George Perec intitula um de seus mais conhecidos livros “Je me souviens”, onde cada parágrafo inicia com um eu me lembro, como se uma lente de aumento fosse colocada diante dos mais ínfimos fragmentos da memória de cada um de nós. Perec também anuncia: o título, a forma e o espírito de seu texto são inspirados em “I remember” de Joe Brainard. Eu me lembro. Tu te lembras. Ele se lembra. Nós três talvez fôssemos um, ou tantos mais, em tantas lembranças que já deixam de nos pertencer para realizarem a sua literatura. Pois foi dessa maneira que realizei a leitura deste livro de Nelson Rego. Ele assume uma memória coletiva. Eu assumi meus óculos como o mais precioso anteparo diante das coisas que quero ver. Vejo através. Leio atravessando. Eu me lembro, por exemplo, de uma brincadeira de criança: fazer queimar papel colocando uma lente de aumento em ângulo oblíquo à incidência da luz do sol. A grande descoberta foi perceber que meus óculos, companheiros desde a primeira infância, cumpriam maravilhosamente bem este talento incendiário. Desde então, creio estar lendo melhor, fazendo arder um texto, perfurando-o ao mirar, por tempo indeterminado, determinadas palavras. Realizo recolhas de cinzas, acreditando nas brasas. Do romance de Nelson Rego absorvi um vocábulo verde capturando palavras-cores e frases-memória, tomando emprestada a lente de aumento do autor para ver de perto e para ver de longe, cujo foco compartilho com o leitor nas abas deste livro.
Elida Tessler

Número de páginas 160
Dimensões 16 × 23 cm
ISBN 8586225355
Edição 1
Ano de publicação 2004
Peso 260 g