A crônica é sempre um olhar. Um olhar que retira o cotidiano da banalidade e lhe dá uma nova dimensão. Neste livro, Mike Kepp, um americano que se abrasileirou, mostra como é ser o outro e como é ser o outro de si mesmo. Já não é o que era e não tem como se tornar o que não é. Assim, com um pé em cada país, transita por duas culturas, saltitando por temas densos, como a questão racial ou abusos policiais e chacinas, e por temas leves, como as letras que indicam andares nos elevadores brasileiros ou os eufemismos para novos tipos de relacionamentos pessoais estadunidenses. A proximidade dos dois países o ajuda a decifrar enigmas culturais; já o distanciamento lhe permite análises acuradas. Revelam-se a paixão dos americanos por estatísticas, a tendência dos brasileiros de pedirem desculpas onde não há necessidade de ser desculpado, pitadas de ironia e alguma autoanálise e, de quebra, citações primorosas servem como um apanhado das duas culturas. Há ainda aqui um microguia para viajantes que não querem ser meros turistas, com dicas de cascatas, músicas e pássaros. Kepp nos convida a uma agradável suspensão da rotina: o que mais se quer de um livro de crônicas?