No projeto Encontros com o Professor, realizado quinzenalmente em Porto Alegre, o jornalista Ruy Carlos Ostermann entrevista expoentes da cultura brasileira.
Histórias de quem gosta de conversar
Ainda que tenhamos inúmeras formas de nos comunicar atualmente, muitas delas mediadas pela tecnologia, talvez a mais significativa seja aquela mais antiga – a do olho no olho. Cartas, telefonemas e, mais recentemente, e-mails, blogs e comunidades virtuais são meios para algo que nos torna seres sociais, e a sua proliferação só confirma a grande necessidade que temos de falar com o outro, de saber do outro, de saborear com, isto é, partilhar. É nessa troca, paralela à leitura, que tomamos conhecimento de onde estamos no mundo, que papel cumprimos e que razões buscamos. Tanto as mídias que a tecnologia nos apresenta quanto as formas mais imediatas, todas pressupõem uma disposição das partes: conversar.
Por excelência, entrevista é conversa. E neste assunto, o Ruy Carlos Ostermann é professor. Neste livro, ele nos ensina um pouco das muitas facetas de uma boa entrevista, desde a escolha do local, as condições de iluminação e posição dos convidados, passando pela pauta, até o tipo das perguntas. Como ele mesmo diz, “não há entrevista exaustiva nem conclusiva”, do mesmo modo, não há receita pronta para uma grande entrevista. É preciso saber ouvir. Disso decorre muito do resultado. Aliás, esta não é uma importante regra para toda a vida?
Nos Encontros com o Professor, as conversas fluem, e com elas vem o gozo de quem pode – sem culpa nenhuma – escutar a conversa da mesa ao lado. E mais: a platéia pode e é convidada a perguntar também. O Ruy, como um gourmet, distribui a palavra, e os convidados, uns mais que outros, se apropriam dela e a saboreiam longamente. É desse modo que cada um dos vinte e dois entrevistados nos brinda com suas palavras: os seus ditos.
Neste livro, são reproduzidos estes banquetes sem as socráticas indagações: apenas as falas dos convidados devidamente ordenadas. Mas ainda assim o diálogo é tão presente que podemos deduzir as perguntas, as risadas que interrompem, os silêncios que permitiram o aflorar de sentimentos e lembranças, os gestos que completaram o entendimento do não-dito. E, como a reforçar o instantâneo da memória, as fotografias nos remetem de volta à cena, nos transportam novamente ao espaço do diálogo, ao lado a lado, ao olho no olho.